As coberturas de um seguro são como as peças que compõem um motor. Embora dois carros possam ter o mesmo aspecto, as características de cada um podem fazer com que o desempenho deles seja muito diferente.
Duas pessoas podem ter um seguro automóvel, de vida, multirriscos, de acidentes pessoais, de saúde, e uma estar mais protegida do que outra.
Sei que isto pode parecer óbvio, mas a minha experiência diz-me que é preciso reforçar este ponto. Muitas pessoas queixam-se de que esperavam que a seguradora pagasse uma determinada indemnização e afinal aquela cobertura não estava abrangida. Ou o valor que a seguradora pagou não era aquele que o segurado estava à espera.
Como escolher um seguro com a cobertura de que preciso?
Quero começar por dizer que o primeiro interessado em saber que coberturas tem um seguro é, obviamente, o segurado. E infelizmente – do ponto de vista do consumidor – muitas vezes deixamos a escolha das coberturas nas mãos da seguradora ou do mediador. E não são eles que sabem quais são as suas necessidades específicas.
Em muitas situações, o critério “preço” sobrepõe-se às coberturas. Esse é um erro que lhe pode sair muito caro. Quando falamos de coberturas, estamos a falar da lista de situações específicas que a seguradora aceita cobrir em caso de sinistro. Falaremos das exclusões noutro artigo.
Isto é muito relevante porque não basta acharmos que o nosso seguro cobre, por exemplo, desastres naturais. Pode muito bem acontecer que o nosso seguro multirriscos diga que cobre desastres naturais. Mas temos de ler a lista dos desastres naturais: pode ter coberto raio, explosão, inundações, mas não cobrir sismos, por exemplo.
Estou convencido de que milhares de pessoas acham que os terramotos são uma cobertura “normal”, mas não é. Já agora, aproveite para conferir se tem ou não essa cobertura. Olhe que depois de acontecer é tarde demais para exigir que o seguro lhe pague a reconstrução da casa.
A cobertura de sismos é apenas um exemplo para lhe mostrar como é importante saber que coberturas tem nas suas apólices. O ideal era escolher cada uma delas antes de contratar cada seguro. Só você sabe quais são os seus receios e as probabilidades de que lhe aconteça alguma das situações previstas nas apólices de seguro. Vou dar-lhe uma dica para fazer um bom seguro, com as coberturas que lhe interessam, logo no momento da contratação.
Tipos de cobertura de seguros
Na maior parte das seguradoras é normal apresentarem já pacotes feitos que servem à maioria das pessoas. Não conhecem à partida a situação específica de cada cliente. Embora usem vários nomes, na maior parte dos casos correspondem a pacotes “tipo” Base, Plus e VIP, ou Premium. Normalmente, porque temos pouco tempo, escolhemos um deles mais ou menos “a olho” de acordo com o preço que nos apresentam.
O que eu lhe sugiro é que comece por olhar para o “melhor” deles todos. E estude-o com atenção. A ideia é conhecer toda a oferta da seguradora e as respectivas coberturas, com as franquias, valores e exclusões.
Este é o seu ponto de partida: olhe para a oferta desse pacote “VIP” como se fosse o menu de um restaurante. Depois faça a lista de coberturas complementares que realmente lhe interessam. Risque as que não se aplicam a si. Após fazer isto, já começa a saber o que quer.
A seguir, basta pegar nos pacotes anteriores e negociar com o seu mediador de seguros, ou na seguradora que lhe interessa. Acrescente apenas aquilo que realmente quer e precisa.
Ao contrário do que talvez possa pensar, as seguradoras gostam de clientes bem informados. Para as seguradoras e mediadores, entrar em situações de conflito ou andar em guerras em tribunais é a última coisa que querem. O negócio delas é avaliar o risco e fornecer um serviço ao cliente que lhe garanta segurança caso esse risco ocorra. Quando o cliente e a seguradora sabem exatamente o que esperar da outra parte, o conflito não tem razão de existir.
O que cobre o meu seguro?
Uma das situações que gera muitos conflitos é a falta de comunicação por parte do cliente quanto à alteração dos bens cobertos.
Por exemplo, vamos imaginar que o seguro multirriscos com recheio foi avaliado pelo cliente em 20 mil euros. Mas, entretanto, o segurado comprou uma televisão de 2 mil euros ou fez uma piscina e não avisou a seguradora.
Creio que há medo de comunicar à seguradora que adquiriu mais bens. Medo de ter que pagar mais de seguro.
Portanto, mais vale não dizer nada. E até pode ter razão. Mas isso pode sair caro.
Sem querer, o cliente pode estar a prejudicar-se gravemente. Num sinistro grave, o avaliador da seguradora avaliar que o valor coberto era muito menor do que os bens que a pessoa declarou. Em caso de perdas totais só pagam o valor proporcional ao valor inscrito na apólice.
Por exemplo: só declarou que tinha bens no valor de 25 mil euros, mas tinha bens no valor de 50 mil euros. A seguradora pode decidir pagar apenas metade dos bens danificados, perdidos ou roubados. Ou seja, só pagaria 12.500 euros de indemnização (metade dos 25 mil). E, em princípio, a seguradora terá razão.
Na altura da pandemia, muitos portugueses compraram bicicletas caríssimas, trotinetas elétricas ou outros meios de transporte. E não acrescentaram esses valores ao seguro de recheio.
Se uma bicicleta de 5 mil euros for roubada ou perdida num incêndio ou inundação, a seguradora pode recusar-se a pagar. Se não estava listada nos bens cobertos inicialmente, a seguradora tem razão.
Em resumo, é o cliente que tem de manter as coberturas atualizadas no que depender dele. Não tenha medo de conversar com o seu mediador. Exponha todas estas dúvidas. Em muitos casos, o aumento do prémio não é relevante ou até pode nem acontecer.
Cobertura de seguro multirriscos: o que ter em consideração?
No caso do seguro multirriscos também pode acontecer estar a pagar a mais do que deve ou, pelo contrário, menos. Em caso de sinistro total, a seguradora só vai pagar o valor da reconstrução das paredes e telhado. Não vai pagar o valor que deu pela casa quando a comprou. Esta pode incluir o terreno, a localização e a especulação do mercado.
Também há quem dê um valor mais baixo para “poupar”. Se precisar acionar o seguro, o valor não vai chegar para reconstruir a sua casa original. Use o simulador da Associação Portuguesa de Seguradores (APS) para saber se está a pagar o preço justo.
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O que fazer se precisar de mudar a minha cobertura de seguro?
Não se esqueça de que deve informar a seguradora se for trabalhar para países fora da Europa. Se não avisar, e se lhe acontecer alguma coisa lá fora (incapacidade ou morte), a seguradora tem razões para não pagar nada.
Essa informação está também nas coberturas. Leia bem todas as letras “miudinhas” sempre que a sua situação pessoal, familiar ou profissional mudar. Pode fazer a diferença na sua vida.
O ideal é fazer as alterações que entender nas coberturas, cerca de um mês e meio antes da renovação da apólice. Mas, se for um assunto urgente ou adquiriu um bem relevante, pode contactar a seguradora e pedir informações sobre como deve proceder.
Mais um alerta. Tire fotos de todos os seus bens mais valiosos. Em caso de perda total ou roubo, pode ser uma informação preciosíssima.
Não se esqueça de que é o cliente que tem de provar que tinha esses bens e não a seguradora. Envie essas fotos para a seguradora. Ou, pelo menos, guarde-as num e-mail ou online, de forma a que sobrevivam a um incêndio ou inundação, por exemplo.
Cobertura do seguro de vida do crédito à habitação
Por último, a cobertura mais importante tem a ver com o seguro de vida que é associado ao crédito à habitação. Há um seguro “bom” (o ITP ou IDP) e um seguro “mau” (IAD).
No primeiro, com uma incapacidade grave, mas que lhe permite continuar a fazer a sua vida, a casa fica paga. No segundo, o seguro só paga se ficar, como se costuma dizer, a “piscar os olhinhos”, completamente dependente de terceiros.
Se descobrir que tem a cobertura “má” não espere nem mais um dia. Mude o mais depressa possível para o ITP, na mesma seguradora ou em outra. Mesmo que isso signifique pagar mais alguns euros por mês, é muito importante.
Conheço um caso muito próximo de mim de alguém muito novo que foi diagnosticado com uma doença degenerativa. Não consegue trabalhar, mas vai ter de continuar a pagar a casa ao banco até depois da idade normal da reforma. Isto porque tinha o seguro IAD e não sabia o que isso implicava. Bastava ter o seguro “bom” e hoje teria a casa paga pelo seguro ao banco.
A importância de saber a cobertura do seu seguro de saúde
O imprevisto pode acontecer amanhã, ou ainda esta noite. Conheça as coberturas de todos os seus seguros. É muito importante.
Não desvalorize este conselho, mesmo que isso implique perder uma tarde ou uma noite a ler as suas apólices. E anule todas as coberturas que achar que são desnecessárias, e acrescente todas aquelas que considerar que são essenciais.
Veja a sua seguradora como parceira e não como concorrente. Ela está a prestar-lhe um serviço e você está a pagar-lhe. Por isso, é essencial que esteja a pagar por aquilo que realmente quer e precisa. Nem mais, nem menos.
Quando ambos conhecem as coberturas e as mantêm atualizadas, há mais probabilidades de que tudo corra bem quando o pior acontece.